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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Editorial: dia 05 de outubro de 2011


Longe dos olhos

Uma canção nos afirma o seguinte: “Não espere nada do centro, se a periferia está morta”. Com certeza a grande maioria das pessoas que estão lendo esse texto, nunca ouviu tal composição. Sem problemas. Mas o importante é nos focarmos nesse trecho citado. O que ele nos diz? Para alguns mais desavisados, nada. Até porque, cada dia que passa, as músicas mais ouvidas por aqui, o conteúdo das letras ficam em quinto plano. Ou seja, pouco importa o que há de ser dito, o importante é a capacidade que ela terá em fazer as pessoas balançarem os quadris. Nada contra a esse modalidade artística, ela cumpre sua função social. Mas as que possuem riqueza poética e são dotadas de capacidade de nos fazer refletir profundamente, entre estrofes e refrões, com certeza serão sempre bem vindas. Às vezes, o que um compositor fala, devido ao formato em questão, tem o poder fantástico de nos tocar profundamente. Caetano, Buarque e companhia estão aí para comprovar a nossa tese. Mas enfim, voltando a referida frase que iniciou esse texto, cremos que trata-se de uma grande e quase inquestionável verdade. Mesmo que tal situação explicitada seja uma das seqüelas do sistema econômico e vigência.
Vejamos, nas cidades existem claras segregações em relação aonde as pessoas de classes distintas residem. Ricos em aprazíveis bairros nobres e a vasta parcela populacional menos abastada, nos morros e nos chamados bairros de periferia. Nada mais justificável, afinal de contas, mora-se bem quem tem dinheiro suficiente para tal. Com isso, as pessoas acabam residindo coletivamente com os que vivem na mesma faixa de riqueza ou pobreza. Dentro desse contexto, é óbvio que muitos sonham em morar em luxuosos condomínios à beira mar, ou em pontos aprazíveis onde os turistas costumam visitar e se encantar com suas belas paisagens. Em nossa Ilhéus, por exemplo, existem algumas localidades que se enquadram perfeitamente nesse perfil: avenida Soares Lopes, Pontal, Dois de Julho, dentre outros. Sendo assim, qualquer probleminha que apareça nessas localidades, suscitam logo insatisfações dos seus moradores, que exigem providências imediatas do poder público. Afinal de contas, são os nossos cartões postais.
Só que, enquanto isso, longe dos olhares contemplativos dos turistas, e muitas vezes, bem distantes sequer do conhecimento de muitos ilheenses, seguem muitos bairros, literalmente abandonados. Neles, o fato de ter esgoto correndo livremente pelas ruas não revolta a opinião pública. Muito menos se quando chove, ele se mistura com a água da chuva e invadem as casas. Pouco importa se nos morros, centenas de famílias correm risco de vida toda vez que São Pedro resolve mandar chuva. Sem falar nos postos de saúde que não atendem satisfatoriamente a demanda diária, a violência por parte de marginais e de policiais. A ausência de projetos sociais, que invistam em cultura e esporte, evitando com isso que levas e mais levas de crianças e adolescentes sejam arrebanhados para o tráfico e a prostituição. Todas essas questões só ganham notoriedade quando seus reflexos são sentidos no centro. Pensemos nisso.

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